Nas lendas gregas antigas, eram sempre os ciclopes que fabricavam os raios divinos. Encarcerados por Urano, foram por Cronos libertados, que depois os voltou a prender outra vez no Tártaro. Zeus, alertado por Gaia, segundo alguns autores, ou por um oráculo, segundo outros, de que só poderia sair vitorioso da luta contra os Titãs a qual estes contra si desencadearam para se apossarem do trono dos deuses, acorreu então aos abismos profundos do Tártaro para resgatar os ciclopes acorrentados.
Os urânios.
Arges, Brontes e Estéropes são considerados os ciclopes mais antigos, descendendo de Urano e Gaia. Diz a lenda que, ao nascerem e por causa de seus enormes poderes, seu pai Urano, senhor dos céus, trancou-os no interior da Terra com seus irmãos, os hecatônquiros, gigantes de cem braços e cinquenta cabeças. Gaia, encolerizada por ter os filhos presos no Tártaro, incita-os a apoiar a guerra travada por cinco dos seis titãs, também seus filhos com Urano, a fim de tomar o trono do pai que, à época, governava o céu. Os titãs vencem, porém os ciclopes são enviados novamente para o abismo do Tártaro. Por vezes, Zeus, assim como seus irmãos Poseidon e Hades, libertava os ciclopes com a intenção de tê-los como aliados na guerra contra Cronos e os titãs. Os ciclopes, como bons ferreiros, forjaram armas mágicas e poderosas para os irmãos: Zeus recebera raios e relâmpagos, Poseidon, um tridente capaz de provocar terríveis tempestades, e Hades, o Elmo do Terror, que lhe dava invisibilidade.
Tempos depois, quando os ciclopes já eram considerados ministros de Zeus e seus ferreiros permanentes, o grande deus percebeu uma ameaça no médico Asclépio, filho do deus Apolo. Asclépio, por meio de muito estudo, conseguiu fazer ressuscitar os mortos. Então, para que isso não causasse qualquer impacto com a ordem do mundo, Zeus decidiu exterminá-lo. Transtornado e ofendido com a ira de Zeus sobre seu filho, Apolo, levado pela ira e dor, abateu então os ciclopes, pois não podia matar Zeus. Este o castigou então por ter morto aqueles seres, pondo-o a servir no palácio de Admeto. Há indícios de que não foram os ciclopes que morreram pelas mãos de Apolo, mas sim seus filhos.
Os sicilianos.
Essa raça é retratada nos poemas homéricos como gigantescos e insolentes pastores fora da lei, os quais habitavam a parte sudoeste da Sicília. Não se importavam muito com a agricultura e todos os pomares cultivados naquelas terras eram invadidos por eles, quando procuravam por comida. Registra-se que, por vezes, comiam até mesmo carne humana. Por este motivo, eram considerados como seres que não possuíam leis ou moral, morando em cavernas, cada um deles, com sua esposa e filhos, os quais eram disciplinados de forma bastante arbitrária pelos mesmos.
Ainda segundo Homero, nem todos os ciclopes possuíam apenas um olho no centro da testa, entretanto Polifemo, que era considerado o principal dentre todos os outros, tinha apenas um olho em sua testa. Homero ressalta, ainda, que os ciclopes descritos em seus poemas não serviam mais a Zeus e desrespeitavam o grande deus.
Na tradição criada pela narrativa da Odisseia, os ciclopes "sicilianos", que habitavam a atual região italiana da Campânia, eram seres bem mais monstruosos e selvagens, possuindo apenas um olho na testa e sendo senhores de uma força e poder físico assombroso. Pastavam rebanhos de carneiros, apenas comiam carne crua, de preferência humana, e raramente, ou nunca, ingeriam vinho. Ignoravam a piedade e a compaixão, tal era a sua rudeza e aspereza de costumes. As suas habitações resumiam-se a cavernas rudes e nauseabundas, sem qualquer arranjo ou utensílio fabricado. Eram muito idênticos aos sátiros, com os quais tendem a confundir-se. O mais famoso deste grupo de ciclopes foi Polifemo, o mais forte e de maiores dimensões, que terá aprisionado Ulisses na sua caverna e devorado alguns dos seus homens, preparando-se para fazer o mesmo ao herói de Ítaca, que se lhe apresentou sob o nome de Ninguém. Não fosse Ulisses ter embriagado Polifemo e, no sono ébrio e profundo do monstro, ter espetado no seu olho uma enorme estaca com a extremidade endurecida pelo fogo, incapacitando por momentos o ciclope, e aí teriam acabado as aventuras daquele herói homérico, que então regressava a casa.
Outro mito sobre os sicilianos.
Segundo Virgílio e Eurípedes, os ciclopes eram assistentes de Hefesto e trabalhavam dentro dos vulcões junto com o deus, tanto no Monte Etna, na Sicília, como em outras ilhas mais próximas. Os dois filósofos não os descreviam mais como pastores, mas como ferreiros que trabalhavam para os deuses e heróis, forjando suas armas. O poder dos ciclopes era tão grande que a Sicília, e outros locais mais próximos, conseguiam ouvir o som de suas marteladas quando trabalhavam na forja. Acredita-se que o número de ciclopes tenha aumentado, segundo os poetas, e que sua moradia tenha sido remanejada para a parte sudeste da Sicília.
Há, ainda, um mito sobre os ciclopes mais jovens, ou nova geração. Tais ciclopes eram também gigantes e tinham um olho em suas testas, porém, diferentemente das raças anteriores, eram pastores e viviam em uma ilha chamada Hypereia, conhecida entre os romanos como a Sicília. Foi exatamente um desses ciclopes, Polifemo, que Ulisses encontrou quando de sua viagem de regresso à Ítaca, seu lar.
Diz-se que essa nova raça de ciclopes nasceu do sangue do deus Urano que espirrou sobre a Terra, Gaia. Entretanto, Polifemo não era filho de Urano e Gaia, mas de Poseidon com a ninfa Teosa.
Terceira espécie.
Diz-se que há, ainda, uma terceira raça de ciclopes, denominados construtores, provenientes do território da Lícia. Esses possuíam grande poder físico e não eram violentos. Seus trabalhos eram muito pesados e nenhum humano conseguiria realizá-lo tão facilmente. Suspeita-se de que esses ciclopes sejam os responsáveis pela construção das muralhas das cidades de Tirinto e Micenas.
Quanto aos ciclopes construtores, a eles é atribuída à autoria de todas as grandes construções pré-clássicas que se encontravam na Grécia e no sul da Itália, para além de outros lugares em torno do Mediterrâneo. A sua especialidade eram as muralhas. Seriam, na lenda e na mitologia, os autores de monumentos ditos hoje de megalíticos mediterrânicos, como os nuragh da Sardenha, das cidadelas e túmulos gregos no sul da Grécia (Micenas) ou em Malta, entre outros lugares. Caracterizavam-se essas construções por serem de grandes dimensões, "ciclópicas", como se viriam a chamar devido aos seus "autores", com gigantescos e pesadíssimos blocos de pedra quase impossíveis de transportar e trabalhar por seres humanos. Estes ciclopes não eram "urânicos", sendo antes um povo ao serviço de heróis lendários, como Perseu, por exemplo, que os recrutara para fortificar Argos. Este povo de ciclopes tem também a designação de Quirogásteres, ou os "que têm braços no ventre", quase como os irmãos dos três ciclopes urânicos, os Hecatonquiros, gigantes de "cem braços".
Retirado do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclope
http://www.infopedia.pt/$ciclope
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